Coordenado pela subsecretária Aspasia Camargo, o encontro, além de reunir grandes especialistas em políticas para a cidade, foi aberto ao público, que ampliou o debate com perguntas e sugestões.
“O nosso primeiro passo no planejamento do Rio é a visão da cidade que queremos, que vai nos obrigar a mobilizar energias para ir numa determinada direção. E é por isso que o Plano é Estratégico. Ele tem que ter opções e eleger prioridades. E ouso dizer, entre tantas pessoas preparadas aqui presentes, que o caminho, em primeiro lugar é planejar. Mas o caminho, em segundo lugar, é ousar. Buscar o novo! Chega de práticas velhas e arraigadas! O Rio merece grandeza”, disse Aspasia, na abertura do evento, referindo-se ao processo de participação do Plano Estratégico do Rio, que vem sendo realizado desde que o documento-base foi levado a público, no início de julho.

Paisagens do Rio: ativos econômicos
Na mesa da manhã, especialistas como Sérgio Besserman Vianna, presidente do Jardim Botânico; Alfredo Sirkis, do Think Tank Brasil no Clima; Thereza Lobo, da ONG Rio Como Vamos, Eduarda La Roque, ex-secretária de Fazenda; entre outros; discutiram a vocação do Rio como cidade sustentável, verde, turística, que valoriza a sua paisagem e os ativos ambientais. A mesa debateu ainda as urgências em resolver problemas antigos, como a falta de saneamento ambiental e as desigualdades do território.
Nesta direção, um dos pontos fortes e inovadores do recém-apresentado Plano Estratégico foi a decisão em se conectar com as bases da sustentabilidade (econômica, social, ambiental e governança).
“O Rio foi a primeira cidade da América Latina a integrar a sustentabilidade e a resiliência de maneira transversal em todas as secretarias”, disse Cristina Mendonça, da Rede C40, que são cidades de todo o mundo comprometidas no combate às mudanças climáticas.
A historiadora Maria Eduarda Marques ressaltou o papel da tradição e da cultura como foco da cidade global que, ao interagir com o mundo, deve fortalecer sua própria identidade.
Já Alfredo Sirkis assinalou a necessidade de explorar mais a participação privada em tempos de grave escassez de recursos públicos. Ele também sugeriu que o município colabore com soluções para o problema da segurança, o que já vem ocorrendo, especialmente depois da criação do Gabinete de Gestão Integrada Municipal, que reúne órgãos municipais e forças de segurança de todas as esferas, visando reduzir os índices de criminalidade no Rio.
Integração metropolitana
A visão do Rio como metrópole e não como cidade, considerando a diminuição das desigualdades espaciais e sociais, através da melhor distribuição de oportunidades pelo território metropolitano, esteve no centro do debate.
“Ao distribuir melhor, por exemplo, os empregos, estaremos distribuindo melhor os tributos, a renda, e, consequentemente, a capacidade de resposta das administrações que compõem esse território metropolitano”, disse Vicente Loureiro, presidente da Câmara Metropolitana de Integração Governamental.
Clarisse Linke enriqueceu a discussão com a visão sustentável de mobilidade urbana. “Precisamos rever a forma que distribuímos a população e as oportunidades no território. A questão da desigualdade territorial é uma questão de mobilidade urbana. Já que a mobilidade urbana sustentável passa por um princípio de que não devemos pensar só numa infraestrutura de transporte funcional. É uma discussão bem mais ampla, que trata dessas desigualdades”, acrescentou ela, que é especialista no tema.
Educação e Cultura
A parte da tarde foi dedicada às questões da educação e da cultura, com a apresentação de projetos de transformação de realidades por meio de atividades culturais.
Os professores da Rede Municipal de Ensino, Veríssimo Junior e Moana Martins, representaram, na mesa, uma nova visão da educação, a qual a cidade adotou em seu Plano Estratégico: a ideia de que a educação se torna mais atrativa e eficaz à medida em que promove a criatividade de seus professores e alunos.
Veríssimo chamou a atenção para o papel enriquecedor da escola “que ouve os seus alunos, que vêm das camadas populares, e que têm muito a ensinar, além de aprenderem melhor, se forem ouvidos e compreendidos em suas mensagens”.
A subsecretária Aspásia Camargo acrescentou: “Os empregos vão faltar cada vez mais, pois as atividades automatizadas estão acabando, e as atividades criativas exigem educação de qualidade. É preciso ir além do ensino médio. Não aquém!”.
Já o produtor cultural Fernando Portella ressaltou a vocação econômica do Rio como centro de produções artísticas.
E a educadora Wanda Engel insistiu na visão integral do social, com intervenções articuladas e holísticas, chamando atenção para a perspectiva do ciclo de vida nas políticas sociais, seguindo a linha do tempo.
“Um planejamento que vise o desenvolvimento sustentável em sua integralidade deve ter como metas a diminuição da pobreza e da desigualdade, colocando o desenvolvimento social como prioridade, e o desenvolvimento humano como centralidade”, destacou ela.
Participou do debate também o economista Manuel Thedim; o jornalista Evaldo José Palatinsky; e Denise Paiva, que foi da equipe que implementou as políticas sociais do governo Itamar Franco. “A visão clássica da assistência social está falida”, concluiu ela.